
Como disse no primeiro post desse blog, ele tem como objetivo ser um companheiro ao longo do desenvolvimento da minha pesquisa de mestrado. Não atoa, também frisei naquele momento que o recorte da pesquisa faz parte de seu percurso. Agora, após o primeiro semestre venho a público apresentar a definição do meu objeto de estudo e as questões no entorno deste. Posso dizer que fui despertado, que fui apanhado de vez pelo prazer quase que entorpecente da pesquisa. Uma das coisas que escutei nesse semestre foi que o pesquisador deve ter “tesão” ao escrever, paixão pelo que está produzindo, acreditar piamente na importância da sua pesquisa. Assim sou eu hoje.
Após o intenso semestre de leituras, debates, reflexões e textos produzidos, tenho o prazer de apresentar o título (provisório) da pesquisa: “LUZES DO RIBALTA – o Teatro de Grupo e sua pedagogia localizada em Terra Firme, Belém do Pará, tendo como finalidade principal responder a questão: como os procedimentos artísticos do Grupo Ribalta, em particular, os que caracterizam o seu trabalho como pedagógico, atuam na formação de seus alunos-atuantes?
Sim, eu mudei o foco da pesquisa. E sim, não atuarei dentro dos espaços da escola. O estudo está no campo da educação não formal, apesar deste conceito ainda não ter um consenso a seu respeito. Porém, adotamos a ideia mais difundida de que “a educação não formal é acima de tudo um processo de aprendizagem social, centrado no formando/educando, através de atividades que têm lugar fora do sistema de ensino formal e sendo complementar deste” (PINTO, 2005, p. 4). Também nos interessa quem faz esse tipo de educação. Em geral ela é conduzida por organizações da sociedade civil que desenvolvem ações ou projetos que se caracterizam como meios de ensino/aprendizagem, que ficam a margem das discussões dos paradigmas da educação do país. A concepção da pesquisa é buscar a experiência do Grupo Ribalta para obter elementos que venham contribuir para esse debate, trazendo a perspectiva de um trabalho não institucionalizado de ensino de arte, na linguagem específica de teatro.
Ao adotar um grupo de teatro de bairro como objeto também trago para dentro da pesquisa o conceito de “arte de periferia”, entendendo por periferia os espaços urbanos deslocados dos centros, onde encontra-se a “maioria da população que está desassistida, desacompanhada do Estado” (PEREIRA, 2011, p. 226). Neste cenário, a Arte configura-se como um espaço de lazer, mas também de resistência. Este principio da arte como voz da periferia interessa ao estudo pois está intimamente relacionada a ideia de grupo organizado, exatamente o que o Ribalta é. O teatro historicamente vem exercendo esse papel de resistência seja com Bertold Brecht ou com Augusto Boal. E segundo André Carreira, “a estruturação de grupo porta o embrião da resistência” e esta impulsiona a criação de projetos independentes (CARREIRA, 2003, p.22).
A pesquisa atuará fortemente amparada pelas bases da educação integral do indivíduo, conceito bastante requerido pelas “alas” da educação que urgem por mudanças nos paradigmas do ensino brasileiro. Para entender educação integral podemos pensar como Maria da Glória Gohn: “O mundo da subjetividade humana entra em ação, no processo educacional, com força total, para entender a complexidade do mundo da vida e do trabalho. (GOHN, 2005, p. 109 e 110 apud ALTIERI, 2008, p. 07). É sobre essa educação para a vida que pretendo me deter ao analisar os procedimentos pedagógicos do grupo Ribalta.
A pesquisa se dará por meio de observação e análise das práticas do Grupo, traçando paralelos com autores da pedagogia do teatro, do teatro e da educação propriamente dita. Alguns autores dialogam com a pesquisa, como o francês Edgar Morin e sua teoria da complexidade, que trás profundas reflexões sobre a educação, incluindo a indicação de “sete saberes fundamentais para a educação do futuro”. A educação progressista também perpassa por este estudo através de autores como John Dewey, Dermeval Saviani, Paulo Freire, e no campo específico do teatro, Augusto Boal, André Carreira e outros autores como Roberto Sanches Rabêllo que trabalham o teatro e a educação de forma imbricada.
Desta forma, a pesquisa tem como objetivo geral investigar como são os procedimentos artísticos do Grupo, em particular, os que caracterizam o seu trabalho como pedagógico, na formação de seus jovens alunos-atuantes. Para tanto, vamos buscar incialmente refletir sobre a produção artística de periferia, com recorte especial para a Arte feita no bairro da Terra Firme – Belém-PA; contextualizar histórica e socialmente o trabalho do Grupo Ribalta; e finalmente analisar os procedimentos artísticos/pedagógicos do Grupo Ribalta e sua contribuição para uma educação integral do individuo.
Vamos adiante, este é apenas o começo. Em breve mais textos que darão uma melhor visão do foco de pesquisa e seu andamento. Por agora agradeço aos meus professor@s, minha orientadora Wlad Lima, meus colegas de mestrado, ao grupo Ribalta e todos que já contribuíram nesse inicio de percurso. Evoé!
Referenciais
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